Relatório
2010-2013
Os
órgãos da Academia de Letras de Trás-os-Montes (ALTM) eleitos em 5 de Outubro
de 2010 terminam hoje, 14 de Setembro de 2013, o seu mandato. Propus, e a
Direcção aceitou, bem como o Presidente da Assembleia Geral, A. M. Pires
Cabral, que as eleições fossem antecipadas em três semanas, por duas razões:
evitar o ruído ante e pós-eleitoral, mas, sobretudo, ter ainda em exercício de
funções o executivo autárquico que, sem os perigos anunciados por alguns no
debate pré-eleitoral de há três anos, neste mesmo espaço, soube ajudar-nos,
desobrigando-nos, e nos deixou exprimir longe de uma qualquer respiração
assistida. Como prometido em Junho pelo Presidente António Jorge Nunes, na
terceira edição de Artes e Livros, evento em que mais flagrante se mostrava a
nossa parceria, a saída de serviços contíguos à Biblioteca Municipal facilita à
Academia novas áreas, que a Direcção hoje eleita há-de aproveitar capazmente.
Esta é a primeira pedra branca numa relação sem mácula, oficialmente
protocolada, sem custos particulares para autarquia que, no sector da Cultura,
deixa cidade e concelho excelentemente servidos. Convidei, por isso, além do
Presidente e seu chefe de gabinete, Jorge Novo, a vereadora desse pelouro,
Fátima Fernandes, e, sendo certo que eles, eu e alguns mais nos despedimos de
responsabilidades administrativas, era justo saudá-los nesta ocasião, com um
agradecimento extensivo aos técnicos fisicamente próximos da Academia, e, em
particular, Fátima Martins e José Pedro Santos. E porque antes da estrutura
física estão as pessoas, com seus sonhos e projectos ‒ isso que, na linguagem
dos governos, é uma ‘realização’ ‒, cumpre recordar ter sido Jorge Nunes o
elemento propulsor da nave de que, agora, vamos a bordo, com responsabilidades
acrescidas face à melhoria de condições e à reflexão para que este triénio
inaugural já serviu. Antes de me abalançar ao mesmo, e corolário da dívida que
todos sentimos ‒ pois «gratidão não chega, quando se pode ser generoso», dizia
avô no meu último romance ‒, informo esta assembleia que, sob proposta minha,
decidiu a Direcção da Academia eleger António Jorge Nunes como sócio honorário.
Ter aceitado vir aqui, com os seus colaboradores, completa a nossa alegria.
Outros
sócios honorários são, neste momento, por ordem do primeiro nome, Adriano
Moreira ‒ que também o é pela idade e pelo prestígio, além de emprestar o nome
ao Centro Municipal onde reunimos ‒, o editor que mais transmontano publicita,
António Baptista Lopes, o barrosão Bento da Cru, a bragançana Eduarda
Chiotte, o grão-dicionarista e querido
Amigo Hirondino da Paixão Fernandes, a quem tanto devemos, a vila-realense
Luísa Dacosta, o mogadourense voluntário
e holandês residente José Rentes de Carvalho, a filha adoptiva desta
«terra parda» Teresa Martins Marques, que apresenta, divulga e amadrinha
autores nossos na Associação Portuguesa de Escritores, e, enfim, o livreiro
mirandelense Nuno Canavez, cujas bibliografias, ofertadas ao nosso Centro de
Documentação, alargam perspectivas de trabalho histórico-literário de futuros
investigadores. Em Junho, infelizmente, deixou-nos Roger Teixeira Lopes.
Deixara-nos,
antes, João Sá, mas vem crescendo o número de membros: descontados honorários,
temos 101 sócios efectivos, dos quais queria salientar dois: Pires Cabral e
Amadeu Ferreira.
Aquele
decidiu abrir vaga na presidência desta Assembleia. Só de pensar na tarefa
hercúlea do seu dicionário, que será o mais completo repositório da nossa fala,
percebe-se a razão. Julguei que poderia ser apresentado nesta manhã, mas o
editor supracitado desenganou-me, tal a complexidade gráfica dessa empresa.
Sondei alguns, que poderiam tomar o seu lugar; vi-me constrangido, enfim, a
avançar o meu nome.
Amadeu
Ferreira, entretanto, tendo presidido à instalação da Academia, desde a
fundação, em 12 de Junho de 2010, atirou-me para a primeira Direcção eleita,
num jantar de véspera. Era o que menos me convinha, em ano de República, em que
corri o país de lés-a-lés, a publicitar o meu 5 de Outubro ‒ Uma Reconstituição. No próprio dia 5, saímos daqui
já tarde (os discursos de Bragança do Pará não prezam a brevidade…), mal
almocei às três da tarde, porque aguardava motorista, e, às cinco, eu era
orador oficial das comemorações do dia na Guarda… Ficou logo assente, entre ambos,
que, tratando-se de «uma academia de duas línguas» (como intitulei conferência
minha na Academia Paraense de Letras), ele seria o presidente seguinte. Já
lançou uma ideia a consubstanciar na Assembleia Geral de Março, quando a sua
Direcção apresentar programa anual: organizar-se um Congresso de Escritores Transmontanos.
Homem de vontade e coragem, compreendeu já, tanto Teresa e eu o seringámos, que
urge reduzir o esforço ‒ que ele, todavia, não regateará à Academia.
Foi
por sua intermediação, e maior trabalho do meu lado, que a Academia se
apresentou ao vasto mundo lusófono, quando, em Dezembro de 2010, surgiu com a
ideia, levado da Politécnico do Bragança, de uma antologia de autores. Nasceu,
assim, A Terra de Duas Línguas,
título que, em Março, ele me exigia por telemóvel, estava eu, com Teresa,
passeando em Rabat, Marrocos. Sentámo-nos no café Veneza, na estação
ferroviária, e saiu-me o título, que logo lhe telefonei.
A
segunda antologia, já deste ano, foi ideia minha, e renovado cansaço: ensinou-me,
todavia, que só se vive em comunidade (é o caso de uma academia) se cada um de
nós for consequente, se souber que terá um exemplar com texto seu em troca do
pagamento da quota. Isso ajuda um sócio-editor; e, ainda que não colabore, a
quota anual é uma obrigação, e, sendo baixa, é suficiente para outra operação
de marketing, a saber, estar entre os
poucos patrocinadores da Obra Completa do Padre António Vieira, com trinta
volumes e milhares de exemplares, espalhados pelo mundo lusofalante ad saecula saeculorum, abrindo pelo
cursivo das nossas montanhas…
Resumindo:
se, ao espaço físico proporcionado pela autarquia, acrescentarmos o noticiário
da fundação, as jornadas de Junho (em especial, a terceira), as duas antologias
de autores transmontanos e esta presença vieirina urbi et orbi, não há como negar-se ter-se apresentado bastantemente
a Academia. Houve, ainda, lançamentos de obras ‒ saliento alguns volumes da Bibliografia do Distrito de Bragança, a antologia
de homenagem a Pires Cabral, nos seus 70 anos, e a que ontem mesmo, na
celebração dos cem anos de Raul Rêgo, lançámos em boa parceria com e no Grémio
Literário Vila-Realense; houve três tertúlias, saudações a Bento da Cruz e Barroso
da Fonte ‒ este, nos seus 60 anos de vida jornalístico-literária ‒, a exposição
biblio-iconográfica da Embaixada da Hungria, o início de entrevistas mensais na
Rádio Brigantia, o desafio de Leonel Brito para documentar em filme alguns dos
nossos autores. Temos dois endereços electrónicos, site, blogue e facebook,
requerendo, todavia, maior acompanhamento. Entre outras matérias, o site contém catálogo da nossa
biblioteca, constituída por obras oferecidas pelos académicos, e não só. A par
disso, urge um contacto sócio a sócio, para clarificar endereços e situações
financeiras. No mais, as pastas da burocracia estão organizadas.
Visando
partilha de esforços, equitativa, entre geografias, os novos órgãos sociais
aumentam ligeiramente a presença de Vila Real. Amadeu Ferreira quer reuniões
descentralizadas e um melhor conhecimento do que uns e outros fazemos. É esse o
caminho.
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