Ernesto Rodrigues

Escritor

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Perseu, poemas


 

Publicada por Ernesto Rodrigues à(s) 04:02 1 comentário:
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Ernesto Rodrigues
ERNESTO RODRIGUES (1956), escritor, ensaísta e tradutor de húngaro, é professor associado com agregação na Faculdade de Letras de Lisboa. Estreou-se na poesia em 1973 - último título, Do Movimento Operário e Outras Viagens (2013) -, na ficção em 1980. Romances: A Serpente de Bronze; Torre de Dona Chama; O Romance do Gramático; A Casa de Bragança; Passos Perdidos; Uma Bondade Perfeita; Um Passado Imprevisível, A Terceira Margem. O Teatro completo saiu em 2021. Na edição, relevemos: Tomé Pinheiro da Veiga, Fastigínia; Camilo Castelo Branco, A Queda Dum Anjo. Outros títulos: Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal; Cultura Literária Oitocentista; Verso e Prosa de Novecentos; A Corte Luso-Brasileira no Jornalismo Português (1807-1821); Ensaios de Cultura; Literatura Europeia e das Américas. ERNESTO RODRIGUES (born 1956-) is an associate professor at the Faculdade de Letras of the Universidade de Lisboa. A former journalist and lecturer in Portuguese at the University of Budapest from 1981-1986, he has published twenty works of both poetry and fiction from his debut in 1973 until his most recent publication Teatro in 2021.
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Cultura Portuguesa

  • Cultura Portuguesa

[Pátria, Amor, Fidelidade,]

Pátria, Amor, Fidelidade,

outros nomes não conheço;

sou alma em fuga que há-de

ir morrer ao velho berço.


De amor fiz-me quantos dias

o som pátria permitia;

e se mais tiver que andar

atrás dele nela seja:


que sempre cai a cereja

sob o seu ramo, apesar

das terríveis ventanias.


Assim, Pátria, me protejas,

ou Amor, no teu olhar.

Paz às almas fugidias.


Budapeste, 5-XI-1985


In Do Movimento Operário e Outras Viagens, Lisboa, Âncora Editora, 2013



Prólogo


Eu tinha oito anos e nada sabia de mim.

Vivia em rua de filósofo − Oróbio de Castro −, na dúvida se o primeiro nome era Isaac ou Baltasar, que também ele pouco sabia de si, no trânsito de cristão a judeu. Que transformação seria a minha?

O empedrado desaguava na Rua Direita, que nem por isso, e se chama dos Combatentes da Grande Guerra, mas eu descia a paralela Rua dos Gatos, em sandálias lestas, não me caísse uma varanda em cima.

Dirigia-me à cidadela, como quem vai atrás de enigma – enigma quase, quase a resolver-se, cinquenta anos depois.

Estava longe de imaginar que desvendaria alguns segredos: de família, da cidade, mesmo da pátria. Amo este chão, que me fez quem sou, e desejo refrescar-lhe dúvidas, certezas, raízes.

No Largo do Principal, tomava fôlego: obelisco soletrava vidas caídas na França de 14-18; da igreja de São Vicente nascera quadra, que minha avó recitava amiúde: «Hallóse Don Pedro libre, / y a su mal medio buscando, / se casó con Doña Inés / en Berganza con recato.» Encontrei-a no romanceiro espanhol, sem vírgula a menos. Mas, agora, subir o S invertido da Costa Grande não era pêra doce, irregular nos calhaus de xisto delidos pelo tempo. Vencida a ladeira, ao cimo, um portal quinhentista na então Rua Larga lembrava o primeiro arrabalde deslizando para o rio. Era memória antiga de burgo determinado que já no século XV transbordara da cinza do medo guardado em barbacãs.

Eu queria vê-lo festivo, dentro e fora de muros, bailando ao som de trombas de prata, como nessa gloriosa manhã em que um pregão reunia no largo da câmara, entre a Domus Municipalis e o pelourinho, o povo todo. Aí, foi anunciado que «Dom Affonso por graça de Ds. Rey de Portugal e do Algarve señor de Cepta e dalcacere em Africa», considerando «os muitos serviços e obras de grandes merecimentos que a nos, e a el rey D. Duarte nosso padre, e a nossos Reynos tem feyto dom Fernando segundo duque de Bragança, meu muito amado, e prezado primo, e querendo-lhe galardoar como a nós cabe, e por nollo elle Requerer a nos praz daqui por diante a sua Villa de Bragança se chamar Cidade».

O prazer é todo nosso, caríssimo rei.

Um longo parágrafo de cinco séculos vinha até 1964 – tinha eu oito anos, nada sabia de mim −, deslaçando-se em 20 de Fevereiro de 2014, cujo ponto final nem Deus conhece.


In A Casa de Bragança, Lisboa, Âncora Editora, 2013




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