Agustina
Bessa-Luís (15 de Outubro de 1922), que lembramos na sua jamais temida morte (3
de Junho de 2019), mostrou como as mulheres da região Norte lutam contra os
valores patriarcais, se define a arrogância de burgueses endinheirados,
enquanto reflecte sobre o poder (O comum
dos mortais, 1998) e não evita um olhar conservador sobre a emancipação
feminina (Jóia de família, 2001).
Gerações de estudantes conheceram-na em A Sibila (1954), mas,
entre as dezenas de títulos desde 1948, salientaríamos O mosteiro
(1980), em que se coroa a sua «agressividade de imaginação», incomum no meio
português.
Sejam
biografias romanceadas ou romances-biografias subentendendo ou adaptando
realidades nacionais diversificadas, a arte da composição assenta em
apontamentos narrativos e aforismos, num olhar agudo sobre as relações
província/cidade, emigração, a força da televisão, o pícaro, o passional no
século XIX (na admiração por Camilo), a confissão como género, a defesa do
desejo, o elogio da velhice, quando não é sarcástica sobre os escritores, a
ditadura, no que se diz do país, onde «a família é a única perversão possível»
(O mosteiro, p. 71). Há crueldade na
junção de opostos, caracterizando os seres no seu calculismo: «brutalidade
honesta», «atroz simpatia», «doçura drástica»...
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