Historicamente, os
Bragançãos, a par dos Sousas, constituem uma família estruturante do Reino: o
derradeiro braganção, Nuno Mendes de Chacim, bisavô de Inês de Castro (e tendem
os historiadores, cada vez mais, a casá-la com D. Pedro em Bragança, onde
nasceu o segundo filho, D. João de Portugal e Castro), está sepultado no
Mosteiro de Castro de Avelãs.
A riqueza dos
falares, documentada em recolhas, do guadramilês ao barrosão, que beneficiaram,
sobretudo, o riodonorês e, nos últimos 16 anos, o mirandês ‒ oficialmente, segunda
língua nacional ‒, ganha muito com as relações transfronteiriças, em que
concorrem os demais museus de Bragança.
Região felizmente conservadora do que importa aos
etnógrafos e etnólogos ‒ hoje, antropólogos, musicólogos, etc., nacionais e
estrangeiros ‒, em que os trabalhos e os dias se conjugam em expressões
culturais e quadros linguísticos singulares, torna-se fácil carrear para um
Museu da Língua materiais existentes ou inéditos, desde filmes sobre a região e
autores a recolhas musicais ou cópia de papéis de José Leite de Vasconcelos
depositados no Centro de Tradições Populares Manuel Viegas Guerreiro. Este, com
a nova designação de grupo de Estudos de Tradições Populares, está integrado no
Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras
de Lisboa, centro que dirijo, onde temos grupos dedicados à África de língua
oficial portuguesa e ao Brasil.
Projecto
científico de escopo eminentemente pedagógico ‒ e, desde logo, seguramente
visitado, como se percebe pela afluência estudantil ao Museu do Abade de Baçal
e, mais do que estudantil, ao Museu Militar ‒, esta região, tradicionalmente
ligada à emigração europeia, brasileira e africana, mas também à missionação,
desde Quinhentos, tem oferecido ao País e à Língua, nestes seis séculos, nomes
de respeito em várias frentes, como se prova em A Terra de Duas Línguas. Antologia de Autores Transmontanos (2011,
2013), volumes amplamente divulgados na Lusofonia.
Justifica-se,
assim, um Museu da Língua Portuguesa, «projecto de extrema relevância para
Bragança, que trará cá muita gente», como disse Hernâni Dias, presidente do
município, em entrevista ao Mensageiro de
Bragança (18-2-2016). Como estive na génese desta ideia, solicitado por
Adriano Moreira há um ano, convém lembrar aos poderes públicos (Ministério da
Cultura e Instituto Camões) esta precedência, quando outros, inspirados por um
nefasto incêndio, se querem substituir ao Museu da Língua de São Paulo…
Com efeito, por iniciativa da Academia das Ciências de Lisboa, tivemos, em
Fevereiro de 2015, na sede desta, uma reunião preparatória. Em Março, a mesma
secção de Lexicologia e Lexicografia, sob a presidência do Professor Artur
Anselmo, contou, já, com o presidente do Instituto Politécnico de Bragança. Em
Junho e Julho, os académicos deslocaram-se a Bragança ‒ desde os citados a Telmo Verdelho, Fernando Sousa, etc. Em 4 de Setembro,
constituiu-se, notarialmente, uma associação promotora do Museu, integrando a
Academia das Ciências, o Instituto Politécnico e a Câmara Municipal.
A Academia garante a matéria científica, o Instituto oferece um edifício e
a Câmara responsabiliza-se pelas obras, candidatando-se a fundos comunitários.
Acresce que, numa reunião em Bragança, interveio o anterior presidente
autárquico, Jorge Nunes, agora bem situado, no Porto, na distribuição dos
referidos fundos, e cuja experiência de 16 anos à frente da edilidade será
muito útil.
O Museu ficou planeado no papel, à espera de futura arquitectura. Várias
academias e outras instituições associaram-se. Houve, também, contactos junto
de algumas personalidades. Constituídas as comissões executiva, científica e de
curadores, falta aprontar o espaço físico, para que foi escolhido um antigo celeiro,
de três torres, vistas de vários ângulos da cidade. Espero que esta ideia
se concretize. Veiculei esta informação em mail
para Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões, e minha colega na
Faculdade de Letras de Lisboa. E noticiada, agora, pelo presidente do Executivo
bragançano, deve criar-se um movimento de opinião pública que se espalhe ao país.
Jornal Nordeste (Bragança), 23-II-2016
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