(Romance. Lisboa, Guerra & Paz, 2024. Nas
boas livrarias)
Um governo de cem ministros trabalha de
noite e levanta-se às vinte horas, para ouvir o primeiro-ministro no telejornal,
que os cidadãos não vêem. Cada gabinete tem cem funcionários, mas nenhum pode
ser mais alto do que o seu ministro. São titulares dos Negócios Estranhos, da Propaganda,
do Betão, da Apneia, dos Equídeos, das Boas Intenções… –, enquanto vendem a
província ao estrangeiro.
Sobressai o da Alta Cultura ou do
Verniz, octogésimo no elenco: compensa a humilhação do lugar com pentear-se e
vestir vincadamente e, em cada inauguração, levar a tiracolo uma assistente,
mais nova do que a anterior, até parecerem bisnetas.
Após 50 anos de sono e ignorância, ele
será primeiro-ministro, ajudado pelo narrador, que, no incumprimento de
promessas, se afasta, antes de chefiar um executivo sóbrio, visando o melhor
governo, segundo Goethe: «O que nos ensina a governar-nos a nós próprios.»
Uma distopia? Sim. Tão séria, que se
confunde com a realidade que nos calha tantas vezes em sorte.
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